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O RITO ESCOCÊS RECTIFICADO

JEAN BAPTISTE WILLERMOZ E A MAÇONARIA LYONESA



I - INTRODUÇÃO


O Rito Escocês Rectificado foi relançado nas suas bases atuais, graças ao trabalho incansável de Jean-Baptiste Willermoz, que mantinha relações com maçons de toda a Europa, principalmente com os Irmãos mais qualificados de todos os ritos.


Ele passou a vida inteira reunindo todo o tipo imaginável de documentos, rituais e instruções, buscando alcançar a essência da iniciação maçónica.


O sistema maçônico que o interessava de imediato era o da Estrita Observância Templária, em razão das origens templárias que esse sistema atribuía à Maçonaria e pela sua organização em forma de ordem de cavalaria.



II - ORIGENS MAÇÔNICAS DE WILLERMOZ


Jean-Baptiste Willermoz era muito estimado pelos seus discípulos, principalmente pelas suas maneiras cordiais, amigáveis e sedutoras. Ele tinha como profissão profana a fabricação e comércio de artigos de seda, sendo ainda um grande proprietário de imóveis na cidade de Lyon, no centro da França.

Desde jovem, conseguiu reunir em torno de si um grupo de homens devotados à causa espiritual, tais como: Louis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre, Martinez de Pasqually, o famoso Conde de Saint-Germain, alguns companheiros de estudos e outros seus próprios mestres.


Claude Catherin Willermoz foi seu pai, que por tradição também se dedicava à produção de tecidos; sua irmã Claudine foi iniciada nas ordens externas e o seu irmão mais novo, o médico Pierre-Jacques Willermoz, foi iniciado em todas as ordens e teve um papel importante na afirmação de Lyon como centro maçónico importante.


Jean-Baptiste Willermoz iniciou-se na Maçonaria em 1750. Com 20 anos de idade e já em 1752 era Venerável Mestre da sua loja, tendo um ano depois fundado a loja "A Perfeita Amizade" que mais tarde desempenhou um papel muito importante. Em 1756 obteve a filiação da sua loja na Grande Loja da França. Em 1760, com 30 anos de idade, fundou uma segunda loja: "Os Verdadeiros Amigos", juntamente com o Venerável da sua primeira loja: "A Amizade", o irmão Jacques Irenée Grandon.


Nesse mesmo ano, as três lojas AMIZADE, A PERFEITA AMIZADE, e os VERDADEIROS AMIGOS, sob a coordenação de Willermoz, fundam a GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES DE LYON, que recebeu Grandon como o seu primeiro presidente. Esses maçons tinham como objectivo a volta às suas origens primitivas.


Willermoz torna-se Grão Mestre em 1761, reelegendo-se em 1762, mas desinteressou-se em seguida, em razão do aumento das tarefas administrativas. Além disso, ele estava desgostoso com a  banalidade dos trabalhos maçónicos o que o induziu a fundar o Capítulo dos "CAVALEIROS DA ÁGUIA NEGRA", onde recrutava os melhores elementos de todas as lojas da cidade.


Willermoz ensinava no seu Capítulo que, para encontrar a pedra cúbica, que contém em si todos os dons, virtudes ou faculdades, era necessário encontrar o princípio da vida que os Adeptos chamam Alkaeter. Esse espírito tem a faculdade de purificar o ser anímico do homem, prolongando sua vida.


Tendo também a virtude de transformar os vis metais em ouro. Esse espírito encontra-se nos três reinos da natureza e cabe ao homem encontrar a maneira de manipulá-lo. Eles ensinavam que a pedra bruta representava a matéria disforme que devemos preparar; a pedra cúbica com ponta piramidal representava a matéria desenvolvida pela tríplice acção do Sal, do Enxofre e do Mercúrio.


O portador do terceiro grau possuía duas jóias, uma era o emblema dos três reinos da natureza que entra no trabalho de preparação da Grande Obra, a outra era o Pantáculo de Salomão, de sorte que o iniciado deveria portar em si toda a ciência cabalística. Entretanto, Willermoz logo se desinteressou do Capítulo da Águia Negra, pelas seguintes razões: primeiro porque a base de simbolismo já era de seu pleno conhecimento e havia conseguido formar Mestres capazes de continuar esse trabalho de instruir os maçons do capítulo; segundo porque encontrou Martinez de Pasqually em 1767, quando tinha 37 anos de idade. Martinez, como se sabe, foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohens do Universo, sistema operativo, cujo ensinamento marcou profundamente o espírito de Willermoz.

III - A DOUTRINA DE MARTINEZ E O GRANDE TEMPLO DE LYON


Os maçons de Lyon, embora perseverantes no seu trabalho, não possuíam, uma doutrina sintética, que lhes assegurasse o objectivo dos seus trabalhos. A doutrina exposta por Martinez encaixou como uma luva nas mãos laboriosas dos maçons ocultistas de Lyon, cujo chefe era Jean-Baptiste Willermoz.


Tal doutrina comportava a revelação de verdades primordiais, comunicadas outrora a alguns seres privilegiados e, em sua síntese, ensinava a maneira de transpor a barreira que separa o Homem da Divindade.


Martinez trazia a mensagem de uma tradição oculta, conservada alegoricamente nas Escrituras Sagradas, sob o véu dos símbolos, transmitida através das tempos pelas Sociedades Secretas. A Maçonaria tinha perdido a chave dessa tradição, que foi reencontrada por Martinez e por ele retransmitida em seus rituais.


Sua doutrina explicava que a história da humanidade se resumia nas consequências do pecado original e na subdivisão do Homem Primitivo. A Divindade emanou Adão para que fosse o guardião da prisão onde tinha colocado os anjos rebeldes. Adão, revestido de uma forma "gloriosa" comandava toda a criação mas, seduzido pelos Espíritos perversos, Adão quis ter sua própria posteridade "espiritual".


Entretanto,  a  criação   de  Adão  não  resultou  senão numa forma material (Eva), que constituiu a sua própria prisão futura. Essa condição  o privou da comunicação com  a  Divindade e  o expôs aos ataques dos espíritos perversos, dos quais ele era anteriormente o Mestre.


A posteridade de Seth poderá obter sua reconciliação e entrar em contacto directo com a Divindade, após ter percorrido todas as esferas superiores do mundo celeste.


Willermoz foi iniciado por Martinez em Versailles, perto de Paris, no Equinócio de Março de 1767, quando este instalou seu Tribunal Soberano de Paris. Willermoz tinha sido apresentado por Bacon de la Chevalerie e o Mestre logo reconheceu em Willermoz um futuro adepto, um continuador da sua doutrina, motivo pelo qual não pode conter as lágrimas, sobretudo, porque via nessa iniciação a prova de sua reconciliação com a Divindade. Nesse mesmo ano, Willermoz foi recebido como membro não residente do Tribunal Soberano e a sua correspondência com o Mestre durou cinco anos.


Entretanto, durante esse período não obteve nenhuma luz, o que quase induziu Willermoz a abandonar a Ordem, apesar de Martinez lhe dizer que o desenvolvimento das qualidades espirituais, não vinha de um dia para o outro e que somente o tempo e a perseverança na iniciação lhe poderia oferecer os resultados esperados.


Divindade, nada lhe será dado. Somente a graça da reconciliação do Pai dará a potência e o poder ao filho. A luz não é dada ao curioso, ao apressado; o Altíssimo a concede ao Homem submisso aos seus mandamentos e que pratica a sua justiça.

O Elus Cohen deveria seguir rigorosamente o ritual teurgico e renunciar a tudo o que existe neste baixo mundo, e resignar-se a receber a graça no seu devido tempo. Esta virá, a partir de um trabalho constante, quando menos se espera. A preguiça, ou a impureza de um único membro durante os trabalhos, prejudica todo o trabalho colectivo dos grupos operativos.


Willermoz compreendeu rapidamente estas premissas e trabalhou de corpo e alma, não somente na sua regeneração pessoal como também com o objectivo de estender essa doutrina à Maçonaria, fazendo novos adeptos para a Ordem. Foi por essa razão que buscou a aliança com os maçons alemães da Estrita Observância Templária, isentos dos objectivos políticos e vingativos dos maçons Franceses.



IV - OS DIRETÓRIOS ESCOCESES NA FRANÇA


O regime Escocês Rectificado teve origem na introdução, em França, dos directórios escoceses em 1773 e em 1774 pelo Barão de Weiler, que rectificou certas lojas existentes em Estrasburgo segundo o rito da Estrita Observância Templária da Alemanha, cujo Grão-Mestre da loja de Saxe (região da Alemanha Oriental) era o Barão de Hund. Após uma longa troca de correspondência com Willermoz, Weiler instala em 1774 em Lyon o primeiro Grande Capítulo da região e colocou Willermoz como chefe ou delegado regional.


Nesse mesmo ano, outros directórios foram constituídos em Montpellier e em Bordeaux, cidade onde residia Martinez. O sistema era constituído de 9 graus, consistindo de três classes:

1a classe: Aprendiz, Companheiro e Mestre


2a classe: Escocês vermelho e Cavalheiro da Águia Rosa Cruz


3a classe: (ordem interna): Escocês verde; Escudeiro noviço; Cavalheiro e Professos.


Os Professos eram considerados SUPERIORES INCÓGNITOS, pois não eram conhecidos dos membros da Ordem. Seu chefe, que mais tarde se tornou conhecido, era o Duque Ferdinando de Brunswick, que possuía o título de Grande Superior da Ordem.



V - O CONVENTO DE GAULES (LYON, 1778)


O sucesso das lojas do Rito Escocês Rectificado foi total na França, principalmente porque elas eram oriundas das tradições templárias e sobretudo porque seus chefes eram nobres autênticos, príncipes, duques, barões e as iniciações eram muito selectivas. Nessa mesma época, estava se instalando o Grande Oriente da França, que fez questão de agrupar os Directórios Escoceses sob sua égide e um tratado foi assinado nesse sentido. Esses directórios não tinham uma direcção central na França e uma união era preconizada por todos. Entretanto as desavenças em vez de diminuírem, aumentaram. O próprio Willermoz escreveu ao Príncipe Charles de Hesse, queixando-se que Weiler não conhecia nada sobre "as coisas essenciais".


O grande superior Ferdinando de Brunswick procurava desesperadamente a doutrina e a coesão que faltava. Os Lyoneses detinham há 11 anos o sistema de Martinez de Pasqually, doutrina que poderia interessar aos Directórios. Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin de maneira muito oculta, prepararam as coisas com cuidado.



Eles conseguiram iniciar Jean de Turkeim e Rodolphe de Salznan na Ordem dos "Elus Cohens", homens de grande importância no seio da Estrita Observância Templária do Directório de Estrasburgo. Esses dois homens desempenharam um papel muito importante quando os ocultistas de Lyon apresentaram sua proposta dos conventos que iriam realizar no futuro. Com os espíritos preparados, segundo a doutrina de Martinez, os Lyoneses convocaram o CONVENTO DE GAULES em 1778, em Lyon. As grandes figuras da Estrita Observância Templária estiveram presentes em Lyon, mas preocuparam-se essencialmente com o futuro administrativo da Maçonaria. Willermoz demonstrou, desde logo, que a preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiro objectivo da Maçonaria e nas suas directivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade.


No decurso dos trabalhos, decidiram distinguir as lojas simbólicas das lojas da Ordem Interior e substituir por Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa a palavra Templário. Os rituais apresentados pelos Lyoneses foram aprovados, assim como as instruções secretas de Willermoz, tiradas do "Tratado da Reintegração dos Seres Criados"’ de Martinez de Pasqually. O objetivo primeiro da Maçonaria seria comunicado somente aos iniciados nos dois últimos graus: "Professo" e "Grande Professo". A denominação de Superior Incógnito, que tinha sido condenada anteriormente, foi ressuscitada no convento, e era designada àqueles portadores de alta doutrina da Ordem. Entretanto, o verdadeiro objectivo da Maçonaria, permanecia desconhecido por todos aqueles que não tinham entrado realmente dentro da iniciação, embora portassem títulos de nobreza e mesmo dos altos graus do "Rito Escocês Rectificado". Além disso, havia várias tendências maçónicas e de outras sociedades espiritualistas que colocavam uma grande confusão nas mentes dos vários grupos maçónicos, oriundos de regiões diferentes. Havia assim, a necessidade da realização de um outro convento.



VI - CONVENTO DE WILLELMSBAD DE 1782


Foi assim que quatro anos mais tarde, em 1782, se realizou outro convento em Willelmsbad, com um número maior de participantes em relação àquele efectivado na cidade de Lyon em 1778. As reuniões duraram 45 dias e lá estavam presentes Willermoz e Saint-Martin, bem como, representantes dos Filaletes, dos Iluminados da Baviera, etc, todos ligados à Estrita Observância Templária.


A diversidade de ideias e de opiniões, impediu que se chegasse a um denominador comum e que se definisse com precisão a doutrina da Ordem.

Desta maneira, acabou-se mantendo as mesmas resoluções do Convento de Lyon, inclusive a doutrina de Martinez. Abandonou-se a pretensão da descendência directa dos Templários, evocando-se, entretanto uma filiação espiritual, oriunda do Mundo Invisível.



Os Rituais foram modificados substancialmente,  sendo esta a razão pela qual o sistema foi denominado RITO ESCOCÊS RECTIFICADO.

RITO ESCOCÊS RECTIFICADO (RER) / RECTIFIED SCOTTISH RITE (RSR)​

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